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Textos pedagógicos de Rivail

“Os meios próprios para se educar a juventude são uma ciência bem distinta
que se deveria estudar para ser educador, como se estuda a medicina para ser
médico.” H. L. D. Rivail, 1828

Dora Incontri nos presenteia com um livro cuidadosamente organizados por ela:
Textos Pedagógicos, Hippolyte Léon Denizard Rivail, Editora Comenius,
editado em 1998. Trata-se da tradução de textos de Rivail, encontrados por ela
na Biblioteca Nacional de Paris.

Como ela mesma diz, tais textos tem um valor imenso, tanto emocional quanto
histórico e, também, quanto ao conteúdo pedagógico; tanto para os espíritas,
quanto para qualquer pessoa que lide com a Educação. É um registro do pensamento
educacional da época, feita por um educador estudioso, que vem refletir a
própria evolução das idéias sobre educação.

Apresento a seguir fragmentos deste texto de Rivail, de 1828, bem antes,
portanto, de assumir-se como Allan Kardec, e de codificar a Doutrina Espírita.
São reflexões pertinentes até hoje, e que explicam em parte a busca constante
dos estudos em Educação, a busca do entendimento dos processos do conhecimento
da aprendizagem, preocupação de Rivail desde então, como denota a própria
epígrafe acima, apresentada originalmente em seu livro.

Espero que tal leitura desperte o interesse e a vontade, nos educadores, de
encontrar o texto todo, possibilitando um trabalho de reflexão, análise e
crescimento nesse campo maravilhoso de atuação.

“A instrução de uma criança não consiste apenas na aquisição desta ou daquela
ciência, mas no desenvolvimento geral da inteligência; a inteligência se
desenvolve na proporção das idéias adquiridas, e quanto mais idéias se tem, mais
apto se é a adquirir novas. A arte do professor consiste na maneira de
apresentar estas idéias, no talento segundo o qual ele sabe graduá-las,
classificá-las e apropriá-las à natureza da inteligência. Como o hábil
jardineiro, ele deve conhecer o terreno em que semeia, pois o espírito da
criança é um verdadeiro terreno cuja natureza é preciso estudar; e assim como o
talento do jardineiro não se limita a saber colocar plantas na terra, assim o do
professor não se limita a fazer aprender os rudimentos. Durante muito tempo,
este papel passivo e mecânico pareceu ser o dos homens destinados a formar a
juventude e os aparelhos de castigo que eram vistos como inseparáveis de suas
funções, eram pouco apropriados a elevá-los na opinião pública. Mas hoje
começamos a compreender que eles têm uma missão mais nobre; que para ser um bom
professor não lhe basta saber fazer versos latinos, que o pedantismo é o
ridículo desta condição.

Para bem ensinar, é preciso conhecimentos especiais, independentemente da
ciência que se queira transmitir; é preciso conhecer a fundo a natureza do
espírito das crianças, a ordem e a maneira segundo os quais se desenvolvem as
faculdades, as modificações da inteligência segundo a idade, as relações entre o
físico e o psíquico; o efeito das influências exteriores, as causas que podem
apressar ou atrasar o desenvolvimento das faculdades; as doenças do espírito, se
assim posso me exprimir; a ordem segundo a qual nascem as idéias, a maneira pela
qual se encadeiam, aquelas que devem servir de fundamento às outras; calcular a
força do espírito e a possibilidade de conceber tais ou quais idéias; conhecer
enfim os meios mais próprios a desenvolvê-las. Mas isto ainda não basta; é
preciso ainda um tato particular, inato por assim dizer; uma arte que não se
aprende. Vê-se pois que a ciência do professor é toda filosófica, e que ela
exige muitos estudos da parte daquele que se lhe entrega. Estou longe de ter
traçado nessas poucas palavras um quadro completo da ciência pedagógica;
toquei-a apenas de leve, pois o detalhamento de todos os conhecimentos que ela
abrange seria imenso”

Rivail vivia um momento bonito da história, da descoberta do potencial da
infância, e da importância de bem trabalhá-la.

O campo é grande e há muito trabalho, para todos nós, no sentido de ampliar o
entendimento do processo de aprender, numa marcha que não tem fim, e que quanto
mais estudamos mais há para se aprender.

O conhecimento da Doutrina Espírita, longe de fechar estas questões, abriu-as
mais, com novas e inúmeras possibilidades de se perceber tal processo,
solicitando uma postura ativa e construtiva das pessoas, deixando
definitivamente de lado aquele “papel passivo e mecânico” de educadores
apontado por Rivail já àquela época.

(Jornal Verdade e Luz Nº 172 de Maio de 2000)