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A Navalha de Occam

Nem sempre Occam conseguiu usar sua navalha.

Isso aconteceu particularmente em relação à existência de Deus, assunto que
preferia não abordar.

Não a negava, mas considerava que, devido à transcendência do tema, seria
impossível conjeturar sobre o Criador sem recorrer a argumentos complexos, de
difícil entendimento.

Os Espíritos que orientaram a codificação da Doutrina Espírita ensinaram
diferente.

Dotados de notável capacidade de síntese, própria da sabedoria autêntica,
demonstraram que é possível passar a navalha de Occam em lucubrações complexas e
reduzir a argumentação em favor da existência de Deus à sua expressão mais
singela.

Isso acontece na questão número quatro, em O Livro dos Espíritos.

Pergunta Kardec:

Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?

Resposta:

Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa.

Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão
responderá.

Comenta Kardec:

Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O
Universo existe, logo tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que
todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pode fazer alguma coisa.

Simplíssimo!

Se o Universo é um efeito inteligente, tão superior ao nosso entendimento que
seus segredos são inabordáveis, forçosamente tem um autor infinitamente
inteligente – Deus.

A partir dessa idéia o difícil é provar que Deus não existe.

Teríamos que explicar o efeito sem causa, a criação sem um Criador.

Quaisquer argumentos em favor desta tese ingrata seriam
facilmente eliminados pelo próprio Occam, usando a navalha do bom senso.