Tamanho
do Texto

Desencarnou Francisco Cândido Xavier

Desencarnou Francisco Cândido Xavier

A notícia não deveria surpreender ninguém já que o extraordinário médium
brasileiro há muito vinha denotando grande debilidade física. Mas o movimento
espírita mundial sofre uma perda imensa com a partida deste gigante do
Espiritismo para a Pátria Espiritual.

Conhecemos Chico Xavier há dez anos atrás. Era um homem impressionante, pela
vibração que não se podia deixar de sentir junto dele. Franzino, vestido de
forma singela sem dúvida, há muito não se podia movimentar sem a ajuda de
colaboradores, já que estava praticamente paralisado da cintura para baixo.
Então, fruto da má qualidade da placa dentária que lhe havia sido feita cremos
que por Eurípedes, falava com muito sacrifício e dificuldade. No entanto,
quando, quando fomos mais ou menos convidados por «seu filho adoptivo» a
abandonar a sala, sem que ainda tivéssemos tido oportunidade de falar,
extasiados que estávamos olhando aquele ser angélico, Chico olhou-nos com grande
carinho, chamou-nos para junto de si e iniciou um diálogo que ficou em nossa
memória para sempre. Não foram muitos minutos, mas os suficientes para
compreender a estatura moral daquele «jovem», que passou de dificuldades em
falar para um discurso corrente como se nada se passasse de doloroso naquela
boca que, dava para perceber, mal tratada estava, porque ferida. E Chico
dirigiu-se a Portugal com um carinho e um amor que chocou, porque oriundos de um
cidadão do mundo, traçando linhas definidas da História dos dois povos e
prenunciando alguns passos do futuro.

O Movimento Espírita Português e a Federação Espírita Portuguesa têm em
Francisco Cândido Xavier uma referência impar. Ele personificou, durante
décadas, a união do Movimento Espírita Brasileiro, porque referencial do
Espiritismo, mas também foi o autor material de numerosas obras que constituem
verdadeiro manancial de cultura espiritual. Ele só por si manteve intactas as
virtualidades sociais da Doutrina Espírita, porque exemplificou sempre a
simplicidade, o amor que perdoa sempre, o suporte das críticas, as investidas
das trevas, travando o lamentável equívoco de muitos daqueles que fazem do
movimento espírita um «bombo de festa», que serve para bater sem racionalidade,
a maioria dos quais está dentro do mesmo movimento, explorando pequenas
divergências de opinião como se tratasse de verdadeiras fracturas ideológicas.

Chico, Amor, Xavier, serviu de exemplo e se a esmagadora maioria o tornou
como imagem viva do amor e da tolerância, é tempo dos aprendizes de feiticeiro,
que se comprazem escolhendo motivo para dividir, pensarem que afinal o encontro
com a verdade consciencial ocorrerá sempre e que valerá mais apresentarem-se ao
Altar da Verdade, com a consciência do dever cumprido, do que desembarcarem no
outro lado da vida com o filme de terem desmerecido a vida impoluta de um homem
que foi exemplo para todos.

O Movimento Espírita Mundial deverá estar em festa. Porque para nós morte é
vida e sabemos que o «simpático velhinho» de Uberaba, verdadeira glória de amor,
deixou o seu «jumentinho» já bem depauperado para nos fazer herdeiros de um
legado de luz bem patente nas centenas de livros que constituem um manancial de
esperança, de consolação e de fé.

Precisamente no dia em que o Brasil se engalanava para festejar a desportiva
vitória mundial, Chico parte em silêncio, precisamente longe das luzes da
ribalta. Da forma simples como viveu. Mas como discípulo sublime do Mestre, de
quem trouxe, pela mediunidade, testemunhos inesquecíveis nas obras de Emmanuel,
que fazem rolar lágrimas de comoção a todos aqueles quantos ali buscam consolo
para suas dores.

Portugal e a sua Federação prestam sentida homenagem ao amigo, ao irmão e ao
grande e exemplar mestre de amor e resignação. Acompanhamos, vibrando, os
hossanas que o mundo espiritual canta na recepção a um dos mais admiráveis
discípulos de Jesus sobre a Terra.

Com ele no mundo espiritual, a Religião dos Espíritos ganhará mais dinâmica
porque o teremos connosco, mais perto de nós, para o Bom Cambate.

Apresentamos á Federação Espírita Brasileira e ao Movimento Espírita do País
Irmão a nossa total solidariedade e afirmamos que juntos continuaremos levando a
mensagem que Chico tão bem nos transmitiu e que o Espiritismo advoga – o AMOR E
A INSTRUÇÃO.

Portugal, 1 de Julho de 2002