O dualismo de Locke
O filósofo Inglês John Locke viveu de 1632 usque 1704, justamente em um período
de transformações políticas e intelectuais na Europa e ainda mais na Inglaterra.
Locke esteve no coração disso tudo e participou ativamente de todas aquelas transformações.
Ao longo da sua existência tornou-se amigo de Cientistas Famosos, entre eles, e
o maior de todos, Isaac Newton.
Locke escreveu importantes obras filosóficas, entretanto, seu trabalho de maior
alcance foi: “UM ENSAIO SOBRE O ENTENDIMENTO HUMANO” que tratava da Filosofia Geral.
Mais tarde, com muita propriedade, escreveu “O ENSAIO”, um livro profundo de filosofia
que demanda leitura atenta e de difícil hermenêutica. Até hoje, em nossos dias,
este livro desperta a atenção dos mais Eminentes Filósofos. Neste seu livro – “O
ENSAIO” – Locke tomou por base a metafísica e a epistemologia e chegou à meridiana
conclusão do dualismo ou seja do princípio: Espírito e matéria.
Abrindo um pequeno parêntese, podemos dizer que a metafísica é a parte da filosofia
que estuda o “Ser” no seu aspecto transcendental. E, epistemologia é o estudo crítico
dos princípios, hipótese e resultados das ciências já constituídas. Então, no seu
livro, “O Ensaio”, Locke chegou à meridiana conclusão de que o Ser Humano tem o
seu alicerce no dualismo: Espírito e matéria. Sabemos que o Dualismo é a doutrina
que admite a coexistência da matéria e do Espírito. Colhemos no livro “O Ensaio”,
deste Grande Filósofo, o seu depoimento:
“o mesmo acontece com as operações da mente, a saber, pensar, raciocinar,
temer etc., as quais, ao concluirmos que não subsistem por si mesmas e ao
não compreendermos como poderiam pertencer ao corpo ou serem produzidas por ele,
somos levados a pensar que são ações de alguma outra substância que chamamos
Espírito“. (apud – “Locke, Idéias e Coisas” de Michael Ayers – trad. de José
Oscar de Almeida Marques – edit. UNESP).
Locke refere-se a uma “substância” que designa por Espírito. Em verdade, a palavra
substância é a parte real ou essencial de algo. O Espírito revestido do Perispírito
não deixa de ser uma substância e esta, como sabemos, faz parte integrante do nosso
conjunto somático. e Locke “sponte sua”, acaba confessando: “temos uma noção tão
clara dessa substância, o Espírito, quanto a que temos da do corpo”.
Podemos asseverar que do dualismo, corpo e espírito, sustentado por Locke, por
certo, nasceram as demais correntes filosóficas-espiritualistas. O próprio Kardec,
em suas pesquisas, não descurou dos princípios filosóficos de John Locke. Sim, o
realismo Lockeano, não dogmático, por certo, leva-nos ao campo da metafísica, para
além dos estreitos limites da matéria. Os extremos argumentos de Locke contra os
filósofos dogmáticos abrem novas fronteiras para os ilimitados horizontes da Espiritualidade.
Também, Locke traçou a grande cadeia de seres. Para Ele, o mundo natural é composto
de indivíduos conectados por uma rede de semelhanças. Para Ele, os reinos vegetal
e animal estão estreitamente unidos. Assim, nosso velho Locke vislumbra, na natureza,
os três reinos que se ligam, por conexões íntimas, quase que imperceptíveis. Neste
aspecto, os Pensamentos de Locke e de Léon Denis emparelham-se. Ambos são evolucionistas
e nos asseguram que o Espírito, na sua jornada de evolução, percorre os reinos da
natureza.
Meus amigos, ante o exposto, sentimos que os Princípios Gerais da Filosofia de
John Locke, não deixam de ser os primeiros Albores das Luzes da nossa querida Doutrina.
(Jornal Verdade e Luz Nº 183 de Abril de 2001)