Carta Kardec a Thiry.
Como podemos constatar numa carta manuscrita inédita de Allan Kardec, munido de modéstia e reclusão naturais de sua personalidade afeita a poucas necessidades, jamais procurou notoriedade, como confessa particularmente ao amigo Thiry, em sua missiva íntima:
“Não procurei a popularidade, visto que me quis apagar completamente, mas devo reconhecer que desde a publicação de meus primeiros escritos isso não foi possível, fui imediatamente difundido, e veio gente procurar-me até em meu eremitério da Villa de Ségur onde queria retirar-me e viver ignorado. Hoje, as coisas chegaram ao ponto de me ser impossível me pôr de lado, fui arrastado pela torrente que se aumenta de dia a dia, meu rumo está, pois, traçado pela Providência, não posso me desviar dele e eu morrerei na minha tarefa. Mas, se eu der crédito ao que me foi dito, mesmo minha morte não porá fim à missão que devo cumprir, e o que faço hoje não é senão a continuação duma obra já iniciada anteriormente”.
Kardec não separou a Teoria Espírita da sua prática, na análise de sua própria tarefa. Pois não esteve nela por acaso. Participara dessa construção em vidas passadas, e a continuaria após a morte, pois o Espírito é imortal, e cada um é afeito ao que se dedica, no decorrer do tempo. Não se improvisa tão grande missão.
As cartas manuscritas inéditas de Allan Kardec são os rascunhos, escritos de próprio punho, para que, depois de copiadas, fossem enviadas aos destinatários. Recebia a ajuda de secretários e da sua esposa, Amélie Boudet. Ele registrava as cartas recebidas e arquivava com os rascunhos, formando o arquivo do Espiritismo.
Os arquivos foram queimados pelos inimigos, que queriam desviar o Espiritismo de sua proposta original. Todavia, a seleção feita por Kardec para contar a história por fatos escapou dos ataques, e chegou ao Brasil, graças aos esforços do pesquisador Canuto Abreu. Atualmente os manuscritos estão sendo preservados, digitalizados e serão disponibilizados ao público num portal da internet, pela equipe do CDOR (Centro de documentação e obras raras da FEAL – Fundação espírita André Luiz). O trabalho de tradução está sendo feito por uma equipe internacional de acadêmicos e tradutores profissionais. As cartas disponibilizadas em virtude do livro Autonomia, a história jamais contada do Espiritismo, são acompanhadas de transcrição, tradução e comentários originais elaborados por Canuto Abreu, com a finalidade de documentar a obra. Todos esses documentos receberão uma revisão da equipe acadêmica, para que, catalogadas, sejam oportunamente disponibilizadas em definitivo no Projeto Allan Kardec.
Numa dos manuscritos inéditos, Kardec informou que recebia de sete a oito mil cartas por ano. Uma imensa quantidade de correspondência! Ele não conseguia responder a todas, mas, como podemos conhecer na obra Autonomia, a história jamais contada do Espiritismo, ele respondia regularmente as pessoas em dificuldade, que pediam o auxílio da Doutrina Espírita, na pessoa de Allan Kardec. Ele respondia especialmente a cada um, levando à reflexão para compreender o verdadeiro sentido da vida segundo o ensinamento dos espíritos superiores.
Confira o restante da análise da carta no livro Autonomia, a história jamais contada do Espiritismo.