Mantidos guardados a sete chaves os documentos manuscritos originais de Kardec, sem revelar seu conteúdo, nem mesmo franquear o acesso público. Também Chico Xavier quase nada falou sobre o assunto. Quando o acervo de Canuto Abreu se tornou público, pela iniciativa de seu neto Lian Duarte, com a cooperação do CDOR (Centro de documentação e obras raras da FEAL – Fundação espírita André Luiz), tudo ficou esclarecido.
Antes de esclarecer os espíritas dos desvios e da necessidade de recuperar a mensagem original do Espiritismo, eles fizeram uma consulta aos espíritos, para ouvir seus conselhos. Uma mensagem psicografada por Chico Xavier, documento também disponível para consulta, no dia 20 de setembro de 1958, de Emmanuel, em Pedro Leopoldo, representando os espíritos superiores que conduzem a Doutrina Espírita, pediram que nada fosse divulgado naquela época. Os documentos precisavam ser transcritos, traduzidos, contextualizados, artigos e relatos inspirados por eles precisavam ser escritos. Tudo antes de uma divulgação ampla. Nada poderia servir ao escândalo, mas ao esclarecimento. Foi com paciência e resignação que os dois amigos se calaram por décadas. Em verdade, Chico Xavier e Canuto contaram alguns fatos apenas a familiares e amigos muito próximos. Nenhuma palavra a mais ninguém. Com respeito, aquiesceram à orientação espiritual.
Dez anos depois, num trabalho mediúnico familiar, Canuto Abreu voltou a perguntar aos espíritos se chegara a hora de tornar público o precioso acervo. Manifestou-se o espírito de Bezerra de Menezes. Na bela mensagem, ele confirma que a luz é para ser colocada bem alto, para tudo iluminar, como ensinou Jesus. Todavia, como ocorreu com os essênios, que guardaram em cavernas seguras os registros da bíblia, para que não fossem adulterados ou destruídos, permanecendo por séculos seguros, até que chegasse a hora da verdade ser revelada, o mesmo deveria ocorrer com o legado de Allan Kardec.
Os documentos deveriam ser guardados, preparados, conservados, até o momento de se tornar público, revelando os verdadeiros pioneiros fieis da causa, e denunciando os judas que deturpara a mensagem. Esse era o desejo de Kardec. Bezerra, na mensagem, avisa: “Se orar somente e não vigiar ao mesmo tempo, e fiado na oração adormecer no seu posto, os ladrões poderão chegar e levar o tesouro”.
Canuto foi fiel ao compromisso. Confiou a sua filha a missão de vigiar o acervo, pedindo a ela que transmitisse a tarefa ao neto, assim que ficasse adulto. Este, Lian Duarte, conservou o precioso material por décadas, até hoje, quando serão levados à público, os fatos e parte dos documentos estão relatados em Autonomia, a história jamais contada do Espiritismo. Bezerra de Menezes conclui: “Vigiai o tesouro que o Pai lhe entregou para que no momento oportuno ele seja entregue ao seu legitimo dono”.
Registramos, como fato curioso, que a data da mensagem foi 14 de novembro de 1968. E esse documento foi encontrado entre outras quarenta mil páginas, no acervo de Canuto Abreu guardado no CDOR, exatamente no dia 14 de novembro de 2018, cinquenta anos depois!