O legado de Canuto Abreu, reunido por décadas, em diversas partes do mundo, em busca da verdadeira história do Espiritismo, é um patrimônio de grandeza inestimável. Em Paris, visitou e fez entrevistas com os leais pioneiros como Léon Denis, Flammarion, Gabriel Delanne, Henri Sausse, médiuns que participaram das reuniões da Sociedade parisiense de estudos espíritas, fundada por Allan Kardec.

Nesses encontros, examinou os livros das bibliotecas, anotou depoimentos, copiou trechos de cartas e comentários pessoais encontrados à beira das páginas. Existem centenas de cadernos cuidadosamente guardados em seu acervo, que agora está sendo preservado, higienizado, digitalizado, catalogado pelo CDOR (Centro de documentação e obras raras da FEAL) para disponibilização pública.

Na obra Autonomia, a história jamais contada do Espiritismo há um relato detalhado do encontro de Canuto com Denis, em 1921.

Canuto guardou com carinho tudo o que recolheu naqueles memoráveis encontros. Leon Denis o recebeu com toda a lucidez de seus setenta e cinco anos. Canuto, ainda jovem, aos vinte e nove anos, vivenciou aquele momento ciente de tratar-se de uma oportunidade única, especial. Denis conviveu com Kardec, apesar de trabalhar bastante, viajando de cidade em cidade, encontrava tempo e disposição para eletrizar as plateias como palestras empolgantes sobre o Espiritismo. Lutou ao lado de Delanne, Sausse, Berthe Froppo e a esposa de Kardec, Amélie Boudet, para defender a proposta espírita dos ataques de Leymarie e Guérin, que desviaram o movimento espírita para atender aos devaneios de Roustaing, o advogado que se considerava um missionário destinado a substituir Kardec na definição da moral espírita.

Canuto, nesse encontro, teve a felicidade de receber um presente. Leon Denis, levantou-se da poltrona, apanhou um registro fotográfico com sua imagem mais jovem, e anotou: “ao amigo Canuto Abreu”. Certamente esse momento foi de grande emoção, vivenciado por dois grandes defensores do ideal espírita em toda a sua verdadeira acepção.